Estive afastada aqui do blog por 4 meses. Intenção de voltar a escrever sempre ficava rondando minha cabeça. A última vez que tinha escrito foi no dia da minha cirurgia, então, achava que devia ir dando notícias dos progressos. Confesso que me faltou coragem (e um pouquinho de disposição) para registrar aqui momentos tão difíceis. Desde que comecei a contar aqui minha trajetória contra o câncer, tentei me manter sempre muito positiva diante de tudo. No entanto, nem sempre estive assim nesses 4 meses e, talvez por isso, minha hesitação em escrever.
Sabe quando você está de férias na praia e só chove, e tudo que você quer é que a chuva passe para aproveitar um belo dia de sol. Ou aquela sensação de, depois de um dia de trabalho super cansativo e estressante, tudo que você quer é chegar em casa, tomar um bom banho e relaxar. Acho que era assim que eu estava me sentindo. Só queria que todo aquele "pós-operatório" acabasse para poder voltar a viver minha vida, apesar de ainda ter que continuar com a quimioterapia maio do ano que vem.
Eu tinha certeza de que seria uma cirurgia grande, de recuperação difícil, mas eu nunca podia imaginar a intensidade da dor que eu senti. Foram 2 meses de dor 24 horas por dia e total dependência para as atividades da vida diária (AVDs). Para piorar, além de toda essa dor, as sessões de quimioterapia foram retomadas logo. Eram 2 sofrimentos juntos. Minha mãe e minha irmã foram uns anjos na minha vida, cuidando de mim com tanta dedicação durante esse período.
O câncer foi retirado, juntamente com todo o osso onde ele estava (escápula direita) e todos os músculos ao redor dele. Isso me dá uma margem de segurança ótima, porém uma restrição motora permanente do ombro. Lidar com isso também não foi fácil, apesar de saber que esse seria o desfecho desde o início do tratamento. A dor melhorou, comecei a fisioterapia e conquistei minha independência para as AVDs, mas tinha esperança de conseguir mexer um pouco mais o ombro. Até que a equipe de fisioterapia do SARAH me "despachou" e disse para eu seguir minha vida e usar o braço o quanto pudesse, já que esse era o máximo que eu iria atingir mesmo (ou seja, nada!!! nenhuma mobilização ativa!!!). Algumas coisas são muito difíceis de ouvir, mesmo quando você já sabe. Decidi procurar acompanhamento fora do SARAH, afinal, qualquer ganho de mobilidade que eu tenha, mesmo que pequeno, já é uma vantagem. Chegaram os recessos de final de ano, então, vou começar esse novo desafio só ano que vem. Espero ter ótimas notícias em breve.
Por tudo isso, explico meu sumiço desta casa. Apesar de certo desânimo nesse período, minha fé continuou inabalável, com a certeza de que tudo iria passar (e passou!) e eu estaria aqui novamente afirmando que meu sofrimento é muito pequeno perto de tantos outros e que Deus me faz forte para enfrentar todos eles. Nos momentos de maior desespero, sempre chamei por Deus e Ele me atendeu, acalmando meu coração.
"Por isso vos digo: todas as coisas que vós pedirdes orando, crede que as haveis de ter, e que assim vos sucederão." (Marcos, XI: 24)